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ESTUDO DO LIVRO DO PROFETA DANIEL

*J. DIAS

 
AUTOR
O livro apresenta Daniel como autor em vários trechos, como 9.2 e 10.2. O fato de Jesus confirmar essa autoria fica claro quando se refere ao “sacrilégio terrível”, do qual falou o profeta Daniel (Mt 24.15), citando 9.27, 11.31 e 12.11. O livro foi provavelmente finalizado em 530 a.C., pouco anos depois de Ciro conquistar a Babilônia, em 539.

QUEM ERA DANIEL
Sábio, interprete de sonhos e visões, que viveu entre os exilados judeus na Babilônia.

Daniel era jovem quando foi levado para a Babilônia, talvez logo no início do domínio de Nabucodonosor sobre Jerusalém, em 605 a.C. Sabe-se pouco sobre Daniel, mas pelos conhecimentos que demonstrava devia fazer parte das camadas dominantes e dirigentes de Jerusalém. Ele era reconhecidamente um homem de ciência. Nada se sabe a respeito da sua família. A sua piedade diante de Deus e sua integridade nos negócios de Estado (Dn 2,14-23) nos levam a pensar nas instruções do ambiente familiar.

Ele ascendeu rapidamente, tornando-se um dos oficiais mais respeitados do governo. Sua reputação se manteve mesmo com o colapso do Império Babilônico; Já em idade avançada foi um dos homens poderosos do Império Medo-Persa sendo subordinado apenas ao rei.

UM LIVRO POLÊMICO
Daniel é um dos livros mais polêmicos e complexos do Antigo Testamento. Na Bíblia Hebraica aparece entre os “Escritos” e, no cânon cristão das Escrituras, entre os “Proféticos”. O livro de Daniel é o único livro apocalíptico do Antigo Testamento. Por essa razão, de forma rigorosa, o Livro de Daniel para os hebreus, não cabe no cânon dos profetas. O livro enfatiza o controle divino sobre as potencias mundiais, e destina-se a animar os judeus na fé e esperança em Deus diante das perseguições de Antíoco Epífanes (Dn 8.23-25).

O livro pode ser considerado companheiro do livro de Apocalipse; ambos contêm uma linguagem figurada de difícil interpretação. A tentativa de adaptar as profecias de Daniel e Apocalipse aos fatos da história humana tem produzido ilimitados conflitos de opiniões. A verdadeira interpretação dos detalhes das visões nem sempre é clara.

Dois fatos são geralmente reconhecidos pela maioria dos eruditos:
1-    As profecias representam uma revelação parcialmente velada de eventos futuros da história secular e sagrada.
2-    As visões assinalam o triunfo final do Reino de Deus sobre todos os poderes e do mundo.

No Capítulo 7, muitos comentaristas vêem as quatro bestas como representando os quatro grandes impérios: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma (1.7), seguidos por uma visão do Messias.

No capítulo 8, aparece outro período da história medo-persa e grega sob a figura de uma besta.

O capítulo 9, a oração de Daniel é uma profecia velada do tempo da vinda do Messias.

Os capítulos 10, 11 e 12, contêm predições adicionais de longo alcance e revelações de acontecimentos futuros. Estes três capítulos tem sido campo de batalha de controvérsia teológica com muitas variadas interpretações.

DATA E COMPOSIÇÃO
Os argumentos apresentados para datar o livro no tempo de Antíoco IV Epifânio envolvem três pontos básicos:
1 – A natureza da profecia do Antigo Testamento;
2 – Problemas históricos;
3 – As línguas hebraica e aramaica do livro.

Em termos gerais, os profetas de Israel estavam preocupados, em primeiro lugar, com as circunstâncias religiosas e sócias nas quais viviam os seus contemporâneos, ao invés de ficar fazendo predições a respeito de acontecimentos futuros. Quando efetivamente prediziam o futuro, tratava-se normalmente de eventos em curto prazo, como as profecias de Jeremias sobre a queda iminente de Jerusalém diante dos babilônios. A visão de Daniel referente ao “rei do Norte” e ao “rei do Sul” traça um paralelo exato à história das relações existentes entre os impérios selêucida e ptolemaico no tempo de Antíoco IV Epifânio (11.2-39). Por outro lado a descrição das circunstâncias que cercam a morte do rei (11.40 – 12.3) não corresponde ao que se conhece sobre o falecimento de Antíoco. Com base nesses dados, alguns estudiosos argumentam que o livro de Daniel foi escrito no tempo de Antíoco, um pouco antes de sua morte. Contudo, a idéia de que os profetas de Israel não predisseram acontecimentos num futuro mais distante depende do pressuposto de que as profecias de Daniel são tardias, como também as de Isaías que se referem a Ciro (Is 44.28; 45.1). Isso também pode significar uma rejeição à profecia em geral.

Os acontecimentos do livro de Daniel situam-se no contexto do século VI a.C. No entanto, muitos estudiosos atuais atribuem a composição do livro a um autor do século II a.C., especificamente entre os anos 168 e 164. O motivo da escolha dessa data e sua precisão derivam-se do capitulo 11 deste livro. Ali Daniel fala acerca de vários reis cujos nomes não são citados, mas, os denomina como já foi citados acima “Rei do Norte” e "Rei do Sul”. Entretanto os detalhes deste capítulo coincidem com a história do Oriente Médio do período de Alexandre, o Grande, no século IV a.C. ao período de Antíoco Epifânio, no século II a.C.

A realidade de tudo isso é que não temos evidencias que impeçam a datação do século VI a.C. Além disso, as provas lingüísticas (com relação ao hebraico e aramaico de Daniel) indicam um período anterior ao II século. O fato de Daniel escrever na primeira pessoa a partir do capitulo 7 até o fim do livro, sugere naturalmente que ele seja o autor, embora o uso da terceira pessoa na primeira parte possa indicar que outra pessoa tenha determinado a estrutura e organização do livro.

No tocante a datação do idioma utilizado por Daniel, deve-se notar em primeiro lugar, que um grande bloco do texto (2.4 a 7.28) está escrito em aramaico, não em hebraico. A razão para mudança de idioma é desconhecida. Alguns estudiosos têm argumentado que o aramaico utilizado é tardio. Uma outra evidência de data posterior do texto seria o uso de diversos vocábulos emprestados da língua grega ao referir-se a instrumentos musicais (3.5). No entanto, nenhum dos argumentos é realmente convincente. Há inúmeras evidências de contatos entre gregos e o Oriente Próximo, anteriores ao tempo de Alexandre, o Grande. Esses contatos são suficientes para justificar o aparecimento de vocábulos emprestados da língua grega. O aramaico e o hebraico de Daniel podem ser datados em qualquer ocasião situada entre o final do século VI e o início do século II a.C. Em outras palavras, o argumento da língua não tem peso significativo para determinação duma data anterior ou posterior.

CONTEXTO HISTÓRICO
Em 626 a.C., Nabopolassar foi entronizado na Babilônia quando os babilônios declararam independência do Império Assírio em declínio. Aliando-se aos medos no leste, começaram a testar a força dos assírios. Em 612, a capital Nínive caiu e, com o colapso do governo após queda da Carquêmis em 605, os assírios antigamente poderosos só ficaram na lembrança do povo do Oriente Médio ao qual aterrorizaram durante quase 150 anos.

Com a morte de Nabopolassar, o trono foi ocupado com habilidade por seu filho, o General Nabucodonosor, em 605. Na época, ele assumiu o controle de todos os territórios perdidos pela Assíria, incluindo Judá. Os filhos de Josias que ocupavam o trono de Judá se mostraram incapazes de aceitar o papel de vassalo, pois nas duas décadas seguintes se envolveram constantemente em conspiração contra os babilônios. Isso resultou em várias deportações e, por fim na destruição de Jerusalém e do templo em 586 a.C., pelos exércitos de Nabucodonosor. Durante esse período, Daniel servia na corte babilônica, pois se encontrava no primeiro grupo de deportados levados para a Babilônia em 605 a.C.

TEMA
O temo teológico do livro é a soberania de Deus: “o Deus Altíssimo domina sobre os reinos dos homens” (5.21). As visões de Daniel sempre demonstram Deus triunfando (7.11,26,27; 8.25; 9.27; 11.45; 12.13). O apogeu de sua soberania é descrito em Apocalipse: “O reino do mundo se tronou de Nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre” (Ap 11.15; Dn 2.44; 7.27).

DIFICULDADES DE INTERPRETAÇÃO
A autoria e data do livro de Daniel não são as únicas dificuldades do texto. Há divergências significativas na abordagem do livro. Essas divergências se dividem em três categorias principais.

A primeira abordagem é feita por aqueles que concluem que o livro foi escrito no tempo de Antíoco Epifânio. De acordo com esse ponto de vista, todas as referências a eventos anteriores a Antíoco são mera história, escritas em ocasião posterior aos acontecimentos. Para eles a única predição genuína no livro seria a morte de Antíoco e a esperada intervenção de Deus para estabelecer seu Reino (11.36 a 12.3).

Um segundo e mais tradicional ponto de vista atribui à ênfase principal das predições contidas no livro ao primeiro advento de Cristo. Essa abordagem está geralmente associada a uma compreensão escatológica amilenista ou pós-milenista.

Um terceiro ponto de vista considera que Antíoco Epifânio e a perseguição ao povo de Deus durante o seu reinado se constituem o primeiro enfoque do livro. O segundo é a intervenção divina no curso da história da humanidade ao final dos tempos, quando Deus estabelecerá seu Reino. A ênfase do livro não se acha no primeiro advento de Cristo (Cap. 9), mas sim em Antíoco e na segunda posição escatológica pré-milenista . Nessa compreensão, há grandes divergências entre os comentaristas quando se trata da interpretação dos detalhes do texto.

PROPÓSITO E MENSAGEM
A soberania de Deus é o centro deste livro e pode ser vista em ação nos âmbitos espirituais e políticos. No relato dos acontecimentos da vida de Daniel e de seus amigos, a ênfase está na vida de fé em um mundo cada vez mais hostil. A soberania de Deus é vista pela ótica da capacidade de fazer prosperar ou livrar os fiéis.

A soberania de Deus nas questões políticas é demonstrada nas visões do livro. O propósito era lidar com as expectativas da comunidade exílica e pós-exílica. Com base na leitura de profetas anteriores, o povo de Israel acreditava que o Reino de Deus seria estabelecido com o retorno a Jerusalém depois de setenta anos de exílio. As visões de Daniel diziam que ainda haveria quatro reinos antes da chegada do Reino de Deus e que, apesar do retorno do exílio acontecer após setenta anos, conforme profecia de Jeremias, isso não podia ser confundido com a restauração total. Em vez de setenta anos, o período necessário seria de setenta semanas de anos.

Enquanto isso, os israelitas deviam ser fiéis no mundo dos gentios sob circunstâncias cada vez mais difíceis de suportar. Deviam depender da soberania divina para resistir geração após geração, crise após crise. Também deviam confiar no poder de Deus de controlar a ascensão e declínio de impérios mundiais que viriam para dominá-los. Eles deveriam estar preparados para uma resposta de Deus que não viria de imediato.

O fato de o Reino de Deus ser o auge do programa divino para Israel e o mundo é transmitido claramente no livro de Daniel. O conceito é introduzido no capitulo 2 como Reino que jamais será destruído (2.44), embora de certa forma, Deus já governe em seu Reino Eterno (4.3,34,35).

No capítulo 7 versículos de 9 a 14, apresenta-se alguém denominado como “Filho do Homem” ao qual o Reino de Deus foi dado. Do nosso ponto de vista, podemos certamente identificá-lo como Jesus, mesmo que isso não estivesse claro para os povos da época de Daniel. Os capítulos 9 e 11 dizem respeito à época que precederá o estabelecimento do Reino de Deus.

Os reinos das nações são descritos como temporários e de domínio limitado. O Império Babilônico é o tema dos capítulos 4 e 56; o Medo-Persa e o Grego estão retratados explicitamente no capítulo 8; O Grego, em especial a Dinastia Selêucida é sem dúvida o comentada no capítulo 11.

Os quatro reinos apresentados nos capítulos 2 e 7 é o tema principal. A identificação dos quatro reinos não é feita no livro, apesar de Nabucodonosor ser identificado como o primeiro reino (2.38) e entendermos que os outros dois reinos mencionados em outras passagens, Medo-Persa e Grego, sejam os dois dos três restantes. Mas esse conhecimento não tem grande importância. O que realmente é importante no contexto do livro de Daniel é o contraste entre impérios humanos e o Reino de Deus.

Além desses temas abrangentes de Daniel, alguns conceitos-chave são relevantes para o estudo do livro. Um deles é o “tempo de angustia” (12.1), geralmente denominado de “grande tribulação” (Mt 24.21; Lc 21.23; Ap 2.22). Mateus relaciona essa grande tribulação com o “abominável da desolação” (Mt 24.15) predito por Daniel (Dn 9.27; 12.11).

O “anticristo” pode ser incluído na teologia de Daniel (Dn 7.8,20-22.24-27). Embora essa palavra só apareça nas epístolas de João (1Jo 2.18,22; 4.3; 2Jo 7), porém referências de uma pessoa de ódio satânico que surgirá no fim dos tempos da história humana, antes da segunda vinda de Cristo, são encontradas em vários textos bíblicos.

A idéia do milênio também ocorre no livro de Daniel. O termo milênio é derivado da palavra latina que significa “mil” e designa o período de mil anos descrito em Apocalipse 20. O caráter desses mil anos é interpretado pelos estudiosos, de três maneiras distintas, como se segue:

1-    Os pré-milenistas acreditam que o milênio é um reino mundial de paz e justiça sobre a terra, que se iniciará após a segunda vinda de Cristo (Is 2.1-5; 11.1-10).
2-    Os pós-milenistas acreditam que o milênio é um período de paz e justiça que será estabelecido pela pregação do Evangelho em todo mundo, resultando nas condições descritas em passagens como Isaías 2.1-5; 11.1-10.
3-    Os amilenistas acreditam que o milênio é uma referencia figurada ao tempo presente do Evangelho. Desta forma o milênio não é visto como uma ordem política futura, mas como o reino espiritual do governo de Cristo sobre a Igreja.

Na interpretação dos pós-milenistas e amilenistas, o número “mil” é geralmente considerado como uma forma figurativa de representar um longo período de tempo, em lugar de mil anos literais.
  
AS SETENTA SEMANAS (9.24-27)
A interpretação desses versículos é discutida em muitos pontos particulares. Há duas abordagens fundamentais quanto à interpretação das “sete semanas”. Seriam períodos simbólicos ou períodos literais de tempo. No ponto de vista simbólico, os setenta anos de punição à Israel foram multiplicados por sete vezes em consonância com as maldições da aliança (Lv26.18,21,24,28). Os defensores do ponto de vista literal, são de três categorias. Tal como outras profecias de Daniel, alguns estudiosos interpretam estes versículos como se eles se reportassem aos tempos de Antíoco IV. Outros interpretes podem ser divididos em dois grupos:

1 – Os que interpretam a passagem como se o enfoque primários sobre os acontecimentos estivessem associados ao advento de Cristo.
2 – Há os que interpretam a passagem como tendo referencia aos acontecimentos associados tanto com o primeiro como o segundo advento de Cristo, com um intervalo não declarado entre os dois adventos.

Obs.: Dentro de cada uma dessas interpretações há diferenças individuais quanto a detalhes.

A maioria dos intérpretes, vêem as unidades de setenta semanas como se representassem 490 anos (9.24-27). Essas setenta semanas de anos são então divididas em três subunidades de 49 anos (sete semanas). Os intérpretes diferem somente acerca da pergunta se essas subunidades devem ser vistas como uma seqüência contínua ou se há intervalos entre elas.

O UNGIDO
Há compreensão entre grande parte dos estudiosos que o “Ungido” é uma clara referencia a Jesus. Ligando as “sete semanas” (49 anos) e as “sessenta e duas semanas” (434 anos) como uma seqüência contínua, resulta em 483 anos, a partir de 457 a.C. até 27 d.C., ou seja, até aproximadamente o começo dos três anos do ministério público de Jesus. Mas há os que entendem que os 483 anos começam com a “ordem” de Artaxerxes no ano vigésimo de seu reinado, para a reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 2), ou seja, no ano 444 a.C., em lugar de sétimo ano de seu governo (Ed 7.12-26). Em 457 a.C. Tomando-se por base o ano lunar de 360 dias (como acontece com o calendário judaico), essa aproximação atinge a data da crucificação de Jesus em 33 d.C. Essa data da crucificação é possível, embora discutível.

Há os que defendem que o “Ungido” é Ciro, usando como base Isaías 45.1. Esse ponto de vista separa as “sete semanas” e as “sessenta e duas semanas”. “As sete semanas” se passaram entre a destruição de Jerusalém, em 586 a.C., e o decreto de Ciro em 538 a.C. E “sessenta e duas semanas” (434 anos) seria o tempo durante o qual a cidade seria reconstruída, mais ou menos 538 a.C. e 70 d.C., quando Jerusalém foi destruída pelos romanos sob o comando do general Tito.

O certo que todos esses cálculos, não podem ser usados para uma datação da vinda de Cristo, com o fazem algumas seitas.

CONCLUSÃO
O livro de Daniel serviu para lembrar ao povo judeu que suas angústias não terminariam quando voltassem do exílio. Por isso as expectativas ficariam de lado por um tempo e a angústia continuaria. Contudo Deus sempre dá esperanças a seu povo, eles ressuscitariam (12.2). Deus os incentivou a perseverarem em meio a este período importante de purificação (12.10-13).

O cativeiro deveria servir para os deportados e os que ficaram na Jerusalém destruída, como um período de purificação e arrependimento. Não havia motivo para revolta ou cobranças ao Senhor Deus, e sim humilhação e reconhecimento de que os culpados pela desolação de sua pátria era sua desobediência à aliança entre eles e o Senhor, conforme reconhece Daniel em sua oração no capitulo 9.

Fonte: http://www.santovivo.net/gpage186.html


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