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Nem a casa de Deus escapa


Diane Duque
Não é de hoje que os índices de violência urbana crescem. Manchetes de jornais grifam todos os dias os números de mortos na guerra urbana que as metrópoles brasileiras vivem. Com os fatos noticiados, é possível assistir a polícia matando cidadão, bandidos defendendo uma região, milícias formadas e até políticos envolvidos com o tráfico de drogas. Parece que cada um vive por si e Deus por todos. Mas até a casa de Deus não está mais isenta dos ataques de bandidos. Com a violência batendo à porta, igrejas evangélicas começaram a praticar com mais fervor o mandamento de Jesus “orai e vigiai”.
Diversas providências foram tomadas para que membros das igrejas não ficassem tão expostos à violência. No Rio de Janeiro, por exemplo, a Assembléia de Deus, em Cordovil, Zona Norte, que tem um templo imponente, fez diversas modificações nos horários de cultos e na ordem administrativa. O presbítero Oswaldo de Souza, 42 anos e 23 de policial militar e líder de missões da AD de Cordovil, diz que foram diversas as mudanças realizadas, desde o horário de culto até a mudança do local da tesouraria.
Ele afirma que a Igreja Evangélica precisa estar atenta à sua real função. “Entendo que a Igreja precisa agir na sociedade, como pregar o Evangelho e ganhar almas para Jesus. Tomar providência para a diminuição da violência é importante, mas vale lembrar que ‘se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela’, Salmo 127:1’”, observou.
Cuidar do estacionamento da igreja também já virou rotina. Na maioria das templos, há hoje seguranças para proteger os freqüentadores dos roubos de automóveis. Nem depois de sair do culto é hora de estar desatento. Recentemente, os jornais paraibanos noticiaram que um grupo de dez evangélicos foi vítima de um assalto coletivo na saída de uma igreja no Bairro de São José, na capital da Paraíba. O crime aconteceu por volta das 23h, quando os fiéis voltavam para casa. Eles foram abordados por três bandidos armados com revólveres. O trio anunciou o assalto, rendeu as vítimas e levou telefones celulares, relógios, jóias e dinheiro. Com medo de represálias, nenhuma das vítimas concedeu entrevistas, e apenas duas foram à delegacia dar parte do ocorrido.
Outra vítima de assalto após sair do culto foi Danielle Albuquerque Mecena, 28 anos, que teve sua moto roubada em agosto à noite quando saía da Igreja Presbiteriana, no Jardim Caramuru, em Dourados (MS). De acordo com o relato da vítima no boletim de ocorrência, ela estava saindo para pegar uma blusa na motocicleta Honda Biz, estacionada na frente da igreja, quando foi abordada por dois rapazes, um deles armado. Danielle foi obrigada a entregar as chaves do veículo que foi levado pelos dois homens. Diferente das vítimas da Paraíba, ela registrou queixa na delegacia do bairro.

Coronel da Polícia Militar, Paulo César Lopes: “Aconselho aos evangélicos que evitem, mesmo dentro dos templos, colocar a bolsa em algum lugar que não seja à vista. A igreja é um local público e pode ter um malfeitor que se aproveite de um momento espiritual para realizar seus furtos.




E foi pensando em livrar seus freqüentadores desse tipo de susto que a Igreja do Nazareno, em Rio Claro, interior de São Paulo, investiu em um estacionamento privativo para seus membros. O pastor José Bartolomeu, 65 anos, conta que, além de providenciar um local com segurança particular para prevenir o roubo de carros, que é recorde na cidade, outra providência foi a colocação de cerca elétrica em todo o muro do templo.
Especialistas de segurança dizem que o caso de Danielle é muito comum nas principais capitais brasileiras. O delegado de polícia Cleber Ferreira, 57 anos, diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), o inspetor Júlio César Zambom, 37 anos, chefe da Seção de Policiamento e Fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e o coronel da PM Jarbas Vanin, 50 anos, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC), todos de Porto Alegre, dão dicas de como agir em assaltos a veículo. A maior parte dos latrocínios acontece exatamente no momento de embarque e desembarque do automóvel.
Já o coronel chama a atenção para o detalhe de que o bandido sempre terá a seu favor o fator surpresa, porque é ele quem escolhe a hora do ataque. O inspetor Zambom acrescentou: “Quanto mais atentas as pessoas forem, mais aumentam as chances de não serem surpreendidas”.
O coronel da Polícia Militar, Paulo César Lopes, comandante do Segundo Comando de Policiamento de Área, da Zona Oeste do Rio, vai além dos roubos de carros e define três medidas mais importantes para que membros das igrejas evangélicas evitem os assaltos de bens portáteis (bolsa, celulares, dinheiro). A primeira é a comunicação imediata do fato a uma delegacia e ainda a uma unidade da Polícia Militar. Ele explica que é importante fazer a denúncia nos dois locais, pois as atitudes são diferenciadas. A delegacia está preparada para a investigação e resolução do crime, já o batalhão tem o dever de desenvolver ações preventivas nos locais atacados por marginais.
Outra medida é evitar a ostentação de jóias e dinheiro. E principalmente ter sempre junto do corpo seus pertences. “Aconselho aos evangélicos que evitem, mesmo dentro dos templos, colocar a bolsa em algum lugar que não seja à vista, ou ainda colocá-la na parte de trás do corpo. É sempre bom lembrar que a igreja é um local público e pode ter um malfeitor que se aproveite de um momento espiritual para realizar seus furtos. Já para a igreja, como instituição, ressalto que é importante instalar um sistema de monitoramento com câmara para que seja filmado um eventual roubo, facilitando assim a identificação do meliante. Caso seja possível, também vale a pena contratar uma empresa de segurança privada, para as igrejas maiores e com o corpo de membros com maior poder aquisitivo”, orientou o coronel.


O especialista em Engenharia Econômica e Financeira, Héber Marinho, dá uma dica para que os membros dêem preferência à entrega de seus dízimos e grandes ofertas por meio de cheque nominal à igreja, transferência bancária ou ainda depósito em conta corrente.
Além dos assaltos
Se o cuidado para não ser assaltado é uma prática para toda a sociedade, há cuidados específicos a serem realizados pelos evangélicos dentro dos templos. O supervisor financeiro e especialista pós-graduado pelo MBA em Engenharia Econômica e Financeira da UFF Héber Marinho, garante que até na hora de dizimar é importante ser prudente. “Entendo que a igreja como corpo de Cristo se reúne para prestar culto, mas há um outro lado, que é o da igreja como instituição. Esta, apesar de ter um tratamento fiscal diferenciado, não deixa de ser uma organização que tem seus bens, direitos e obrigações”, diferenciou ele.
O especialista alerta para o fato de que há várias maneiras de ajudar a diminuir o grande fluxo de dinheiro vivo durante os cultos, e o perigo de transportá-lo posteriormente até o banco. Uma boa dica é para que os membros dêem preferência à entrega de seus dízimos e grandes ofertas por meio de cheque nominal à igreja, transferência bancária ou ainda depósito em conta corrente.
Mais um alerta é para a não-divulgação do fluxo mensal de entradas e saídas da igreja. “Muitas denominações têm a tradição de colocar esse balanço (de entrada e saída de dinheiro) nos murais das igrejas. Isso não é aconselhável. Infelizmente, a membresia não costuma ir aos cultos administrativos. Esse é o melhor momento de falar das contas da casa, sem ter exposição desnecessária”, lembrou o especialista.

Idéia inovadora para proteger a igreja
Um pastor que pediu para não ser identificado por morar e liderar uma igreja próxima ao Complexo do Alemão, uma das áreas mais violentas do Rio de Janeiro, usou a criatividade para poder voltar a realizar vigílias.
“Por muito tempo ficamos sem fazer vigília na igreja, pois os membros tinham medo. Então, orando a Deus, me veio à idéia de dar senhas para quem freqüentar a vigília e, desta forma, podemos controlar a entrada dos membros e amigos que participam”, disse o pastor, que é publicitário e tem 32 anos de idade, dez de ministério pastoral e já foi traficante de drogas.
Na prática, a vigília é anunciada no culto durante um mês. Sem dizer que é uma senha de identificação, o pastor diz que para participar do culto, que começa às 22h e termina às 6 da manhã, é preciso pegar um convite que dá o direito ao café da manhã. Assim, além de numerar a quantidade de pessoas que estará na vigília, cada participante é identificado, com o nome em uma lista, pelo obreiro que lhe entregou o convite.
“Sabemos que é Deus quem nos protege, e que uma folha da árvore não cai sem que ele permita, mas também sei que Jesus mandou orar e vigiar. Acredito que cada um, fazendo a sua parte, fica mais difícil de o Inimigo agir. Não somos alienados e vivemos neste mundo, e precisamos saber viver aqui da melhor forma possível”, desabafou o pastor.

Fonte: http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=86&materia=1161

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