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MARTIN LUTHER KING JR

 “Finalmente, livre, obrigado, Deus todo-poderoso. Finalmente sou livre”. Estas palavras de uma antiga canção de escravos estão gravadas na lápide de mármore que ornamenta o túmulo do pastor e ativista negro Martin Luther King Jr. Talvez nenhuma outra expressão resuma melhor o sentimento que norteou sua vida: a busca pela liberdade. Paladino da luta contra a violência racial, King dedicou a maior parte de sua curta vida – ele foi assassinado aos 39 anos de idade, com um tiro no pescoço, na sacada de um hotel em Memphis, nos Estados Unidos – à defesa dos direitos da comunidade negra, da qual orgulhosamente fazia parte.

Como convém aos mártires, sua morte não foi em vão. Quem vive nos Estados Unidos hoje, sabe que a democracia racial, embora vez por outra transgredida por algum imbecil, esta consolidada. Mas não era assim no passado. A sociedade americana de então estava acostumada e conformada com uma série de discriminações contra as minorias – particularmente com os afro descendentes.  Ser americano e negro, naquele tempo, significava a negação forçada a uma série de direitos básicos, como o de escolher livremente escola para os filhos, votar, utilizar transportes coletivos, assumir cargos públicos, ter acesso a crédito, sentar-se num restaurante ou mesmo ir e vir por todos os lugares. Muitos estabelecimentos comerciais, repartições e até mesmo igrejas eram vedados aos “de cor”, eufemismo pejorativo largamente utilizado na época. Grupos extremistas criminosos como a Ku-Klux-Klan, também faziam das suas, queimando negros. E os crimes ficavam impunes. Eram comuns os atos de vandalismo – como a depredação de propriedades e casas de negros – e até mesmo massacre de famílias inteiras só por serem negras.

Foi neste ambiente de intolerância que nasceu o menino Martin, ele veio ao mundo em 15 de janeiro de 1929, mesmo ano da grande “quebra” da Bolsa de Nova Iorque, episódio que lançou o país na maior recessão de sua história. A família radicada em Atlanta no Estado da Geórgia – um dos bolsões de preconceito do Sul dos EUA – tinha tradição evangélica. Tanto o pai como o avô do garoto eram pastores batistas. Martin passou a infância entre as brincadeiras de criança e os cultos. Apesar das posses modestas dos King, o menino teve acesso à boa educação. Aos cinco anos foi matriculado pelos pais num ótimo colégio. Só que a idade mínima obrigatória era de seis anos, e Martin teve de esperar mais um ano para começar. Devido a seu excelente desempenho intelectual, foi admitido com apenas 15 anos, para o curso de sociologia em uma das melhores faculdades aberta do país, onde se incentivava, sobretudo, a discussão sobre a questão racial.

Aos 19 anos, Martin Luther King Jr, bacharelou-se sociólogo, mas aquela altura a vocação pastoral falava mais alto. Optou então por seguir os passos do pai e do avô, ambos ministros da Igreja Batista Ebenézer. Matriculou-se num seminário de teologia, na Pensilvânia. Durante seu período na escola, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico, sua primeira experiência à frente de atividades políticas. Laureado como o melhor aluno da classe, graduou-se em teologia em 1951 e logo partiu para o doutorado, na prestigiada Universidade de Boston. Após obter o PhD em teologia, o agora “reverendo King” aceitou o convite para pastorear a Igreja Batista, da Avenida Dexter, em Montgomery, no Alabama, já na companhia da mulher, Coretta, com quem casara-se em junho de 1953.

Ali ingressou de cabeça na militância, a qual, diga-se de passagem, jamais chocou-se com seu ministério espiritual. Indignado com a discriminação contra a comunidade negra, e ao mesmo tempo inconformado com sua resignação, King começou a adotar em seus sermões tom mais agressivo contra as injustiças de que sua gente era vitima. Montgomery era foco das tensões, onde negros só podiam viajar nos últimos assentos dos ônibus, cujos motoristas eram todos brancos. Um episódio ocorrido na localidade foi o estopim da crise. No dia 1º de dezembro de 1955, uma garota negra, chamada Rosa Parks, recusou-se a levantar e ceder seu lugar para um passageiro branco. A prisão da jovem levou o pastor, com um grupo de seguidores, a iniciar o celebre boicote contra os serviços rodoviários de Montgomery. Sufocado à força depois de 381 dias, o levante terminou com a prisão dos manifestantes, inclusive King. Durante os distúrbios sua casa foi atacada por bombas lançadas pelos defensores da chamada “supremacia branca”.

Agora era tarde demais para voltar atrás na luta. Começaram a pipocar iniciativas de protesto semelhantes em todo Sul dos EUA. King viu-se guindado a condição de líder popular. Com o sucesso do movimentos, ele e mais outros pastores fundaram em 1957 a Conferencia da Liderança cristã do Sul, a SCLC, uma instituição que lutava pacificamente pelos direitos dos negros, principalmente o de votar. Eleito presidente, Martin permaneceu no cargo até sua morte.

A luta de Martin Luther King contra a opressão ganhou destaque nacional em 1958, com a publicação de seu primeiro livro, “A caminho da liberdade – A historia de Montgomery, onde o líder narrava o boicote aos ônibus. No lançamento da obra o pastor sofreu um atentado, curiosamente promovido por quem menos se podia esperar – uma mulher negra. Durante uma sessão de autógrafos, ela aproximou-se e cravou-lhe uma espátula no peito. Socorrido rapidamente, sobreviveu, apesar da gravidade do ferimento. Mais tarde soube-se que a mulher não estava ligada a nenhum grupo político. Apenas sofria perturbações mentais.

De volta a Atlanta, onde assumiu o co-pastorado na Igreja Ebenézer, liderado pelo reverendo Martin Luther King, seu pai. King começou a arquitetar ações mais ousadas, inspirado pela luta do pacifista indiano Mahatma Ghandi, contra o imperialismo britânico, King exortava seus seguidores a jamais apelarem para a violência na defesa de seus direitos. Em 1963 organizou passeatas em Birmingham, no Alabama, reivindicando o fim da segregação racial existente em estabelecimentos públicos daquela cidade. Num dos atos, policiais usaram cães e bombas de gás contra os manifestantes. King foi preso novamente. Contudo a ação repressora teve efeito contrario. O então presidente americano John Kennedy, reagiu aos acontecimentos e enviou ao congresso uma legislação de direitos civis, que seria aprovada no ano seguinte.

Os atentados contra negros e a violência racial continuaram eclodindo país afora, mas definitivamente, os Estados Unidos já não era o mesmo naquele período conturbado de sua historia. Segmentos cada vez maiores da sociedade abraçavam a causa da negritude. Em atos públicos, concertos de Rock e nas universidades, era comum ver-se rapazes e moças brancos abraçados a jovens negros.

O dia 28 de agosto de 1963 estava destinado a marcar uma época. Naquela data, Martin reuniu 250 mil pessoas na celebre Marcha sobre Washington. A manifestação defendia a aprovação da lei dos direitos civis, então em tramitação no congresso que abriria definitivamente as portas da cidadania para todos os negros nascidos nos EUA. O pastor preparou palavras para a ocasião; tomado pela emoção, contudo deixou a papelada de lado e falou de improviso. Seu discurso levou a multidão ao delírio cívico. “Os negros americanos vivem numa ilha solitária de pobreza no meio de um vasto de prosperidade”, proclamou: “A América tem dado a seu povo negro um cheque recusado por falta de fundos.”

Com sua oratória privilegiada, treinada anos a fio nos púlpitos das igrejas que pastoreou, King erguia-se a vista de todos no Memorial a Lincoln. O país inteiro ouviu quando proclamou: “Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado dos seus princípios, verdades evidentes como a de que todos os homens são criados iguais.”

Depois do ato, King estava consagrado como personalidade mundial. O reconhecimento veio quando conquistou o Prêmio Nobel da Paz por sua atuação em favor da liberdade e dos direito humanos. Aos 35 anos foi o mais jovem ganhador da comenda. Também considerado o “Homem do Ano” pela revista Times, tornando-se primeiro negro a receber tal honraria. Todavia para ele o maior premio foi selado em 1964, com a assinatura do presidente Lyndon Johnson, promulgando o Ato dos Direitos Civis.

Discursando na televisão, o presidente Johnson encerrou com estas palavras: “Aqueles que antes eram iguais perante Deus serão agora iguais nas seções eleitorais, nas salas de aula, nas fabricas e nos hotéis, nos restaurantes, cinemas e outros lugares que prestem serviços públicos.

No dia 3 de abril de 1968, King proferiu seu ultimo e antológico sermão, “Eu vejo a terra prometida”, na sede da Igreja de Deus em Cristo, a maior denominação pentecostal de matriz africana nos Estados Unidos. Até hoje as palavras do pastor ativista servem de estimulo e conforto. Naquela noite King exortou o povo a lutar e enfrentar suas dificuldades sem esquecer que um dia teria um encontro com Deus no céu – a terra prometida, segundo a ilustração que utilizou: “Eu olhei de cima e vi a terra prometida. Talvez eu não chegue lá, mas quero que saibam hoje que nós, como povo, teremos uma terra prometida. Por isso estou feliz esta noite. Nada me preocupa não temo ninguém. Vi com meus olhos a gloria da chegada do Senhor”, exultava. A pregação parecia antecipar, tragicamente, o que estava para acontecer. Martin Luther King Jr chegou a sua terra prometida antes do que pensava. No dia seguinte, 4 de abril, o pastor observava o movimento da sacada do hotel quando ouviu-se um estampido. King chegou a ser conduzido às pressas para um hospital, uma tolha branca encharcada de sangue cobria seu rosto, denunciando a gravidade de seu estado. Enquanto a policia cercava o quarteirão em busca do atirador, King agonizava. Uma hora depois estava morto. O assassino, James Earl Ray, foi preso quatro dias depois, em Londres na Inglaterra.

A morte do líder negro soube-se mais tarde foi resultado de uma grande conspiração que envolveu até setores do governo americano. O pastor batista que mudou a trajetória da sociedade mais desenvolvida do mundo foi sepultado diante da viúva, Coretta, e dos quatro filhos (Yolanda, Martin Luther III, Dexter e Berenice), e milhares de pessoas no cemitério e por quase 120 milhões de admiradores em todo mundo, que assistiram o funeral pela televisão. A comoção mundial foi expressa por inúmeros atos de protesto contra sua morte. Herói da humanidade, Martin Luther King Jr deixou um legado de tolerância, respeito pelas diferenças e, sobretudo, amor cristão.

Como última homenagem o Congresso americano estabeleceu, em 1986, um feriado nacional em sua homenagem -20 de janeiro -, ao pastor que fez da igualdade entre os homens sua bandeira, lutando até o fim de sua vida.

    Luther King


  


  FONTE: REVISTA ECLÉSIA
                    www.santovivo.net

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